Tradição familiar inspira jovens a seguirem a carreira na Marinha

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A história de vida dos gêmeos Marcelo Cardoso de Souza e Bruno Cardoso de Souza, de 25 anos, está entrelaçada à Marinha do Brasil. Filhos do SO (RM1) Ozailton Correia de Souza, os irmãos cresceram acompanhando o pai e herdaram dele o entusiasmo pela
carreira naval. Ainda bem jovens, optaram por vestir o uniforme branco. Ingressaram juntos no Colégio Naval (CN) e, posteriormente, na Escola Naval (EN). Hoje, já estão atuando em funções de oficiais do Corpo da Armada. No posto de Segundo-Tenente, Marcelo Cardoso serve no Navio Hidroceanográfico Faroleiro “Graça Aranha” e Bruno Cardoso, no Navio-
Patrulha Oceânico “Apa”. Em 2016, os irmãos devem realizar o curso de aperfeiçoamento. Bruno Cardoso fará o de submarinista e Marcelo Cardoso, na área de Eletrônica.
Nascidos em 1990, Marcelo e Bruno iniciaram os preparativos para a seleção do CN quando frequentavam o Ensino Fundamental em uma escola do Rio de Janeiro (RJ). Em 2008, ingressaram no CN e passaram por três anos de estudos até a entrada na Escola Naval.Em 2014, concluíram os estudos na EN. Em 2015, como Guardas-Marinha, realizaram a XXIX Viagem de Instrução, cujo objetivo é aprimorar a formação dos futuros oficiais da Marinha. Em dezembro do mesmo ano, eles foram promovidos ao posto de Segundo-Tenente.

Arquipélago de Alcatrazes, em São Paulo, ganha destaque em pesquisa da USP

04:00

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Pesquisadora do IO-USP dedicou-se a analisar área pouco estudada em São Sebastião, litoral do Estado de São Paulo
Localizada no Litoral Norte do Estado de São Paulo, a Estação Ecológica Tupinambás foi criada em 1989 e usada pela Marinha do Brasil como base para testes de tiro até 2013, mais especificamente no Arquipélago de Alcatrazes, em São Sebastião. Devido aos anos sendo uma região militar, o conjunto de ilhas apresentou uma lacuna científica sobre seus recursos e preservação. Tentando reverter essa situação, a pesquisadora Natasha Travenisk Hoff, do Instituto Oceanográfico da USP (IO), dedicou sua tese de mestrado em estudar a região.
Natasha disse que a baixa quantidade de informações que se tinha do arquipélago era prejudicial, afetando principalmente as possibilidades de programas de preservação na área. Os últimos trabalhos sobre o local datavam de 1989, com coletas de 1986. A pesquisadora analisou então a integridade biótica, ou seja, quanto o ecossistema consegue se manter saudável apesar das influências como passagem de embarcações e pesca ilegal. Além disso, foi elaborada uma carta de sensibilidade ambiental (chamada de Carta SAO) em caso de derramamento de óleo.
Os dados levantados a partir de coletas entre 2011 e 2014 mostraram que em 1986 a região do Arquipélago de Alcatrazes era muito mais impactada do que é hoje. Os índices revelam que a base da Marinha no local chegou a ajudar sua preservação, mostrando um benefício da estrutura. A pesquisadora diz que esse levantamento põe a base militar dividida em suas interferências no arquipélago e que até 2013 a própria base foi a maior proteção da região.
As análises feitas ao longo da pesquisa registraram ainda espécies diversas, algumas endêmicas e muito ameaçadas, que podem ser ainda mais afetadas com a pesca ilegal, questão que põe em evidência a necessidade de uma fiscalização eficaz. Durante as observações, Natasha relatou espécies juvenis e que ainda estavam, em pequeno porte, o que pode indicar que a região é usada para alimentação desses animais.
A carta SAO mostrou que em caso de derramamento de óleo, a área do Saco do Funil seria a mais afetada, por conta da circulação das ondas na região. A carta poderá auxiliar futuramente em planos de contenção e compêndio das espécies observadas, além de poder atuar em conjunto com a gestão da unidade.
Existe a ideia de transformar o arquipélago em um reserva da vida silvestre, mas, segundo a pesquisadora, é um risco, uma vez que a base de informações e observações do local ainda são raras. É necessário conhecer mais da localidade e toda a vida que o abrange, inclusive sua interferência na vida socioeconômica da região, para poder seguir com novas decisões. O trabalho de Natasha colocou em pauta uma área que estava ofuscada no litoral brasileiro.

O adeus ao navio oceanográfico Prof. W. Besnard

04:00

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A primeira viagem: em 1967, de Bergen, Noruega, rumo a Santos
© ACERVO PESSOAL YARA NOVELLI
Originalmente publicado em:
Em pé, ao lado de um vaso com rosas e gérberas entre guindastes brancos com largas manchas de ferrugem, no convés principal do navio oceanográfico Prof. W. Besnard, Mario Katsuragawa, um professor de 64 anos do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (IO-USP), disse com voz firme e pausada, no final da manhã de 16 de fevereiro: “A ciência oceanográfica brasileira deve muito a este navio”.
Katsuragawa e outros 11 pesquisadores estavam ali para se despedir do navio que fizera parte da formação científica de cada um deles e foi um marco na pesquisa oceanográfica no Brasil. Katsuragawa fez 33 viagens no Prof. Besnard. Segundo ele, a mais dramática, de que não participou, foi uma de 1988, quando o eixo do motor quebrou na passagem de Drake, um longo trecho de mar revolto e ventos fortes na entrada da Antártida, e o navio teve de ser rebocado até o Chile. Lourival Pereira de Souza, técnico do laboratório de oceanografia química, participou de “mais de 50” expedições, disse ele, incluindo três para a Antártida. Na plateia estava também Luiz Bruner de Miranda, aos 78 anos, professor do IO-USP que acompanhou a construção do navio no estaleiro de Bergen, na Noruega, integrou a equipe da primeira viagem, de dois meses, em 1967, rumo ao porto de Santos, e foi pesquisador-chefe de muitas expedições do Besnard.
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Em construção: o lançamento do casco, em 1966
© ACERVO IO-USP / REPRODUÇÃO FRANCISCO LUIZ VICENTINI NETO
Ancorado ao lado estava um de seus sucessores: o Alpha Delphini, o primeiro barco oceanográfico inteiramente construído no Brasil (ver Pesquisa FAPESP no 208). Com 27 metros (m) de comprimento e espaço para 12 pesquisadores e seis tripulantes, está em operação desde 2013, quando foi incorporado pelo IO para aumentar a capacidade de pesquisa em oceanografia no estado de São Paulo. Em 2012 o instituto da USP, com apoio da FAPESP, comprou o navioAlpha Crucis (ver Pesquisa FAPESP no 195), que assumiu boa parte das funções do Besnard. Com 64 m de comprimento e capacidade para 19 tripulantes e 21 pesquisadores, o Alpha Crucis está em reforma em um estaleiro no Ceará e deve retomar suas atividades nos próximos meses.
Com 49,3 m de comprimento, podendo transportar 22 tripulantes e 15 pesquisadores, o Besnard foi construído por encomenda do governo paulista, com verbas estaduais e federais, como resultado de intensas negociações iniciadas no final da década de 1950 por Wladimir Besnard, pesquisador russo radicado no Brasil, à frente do então chamado Instituto Paulista de Oceanografia (IPO), e continuadas por Martha Vannucci, primeira diretora do IO, constituído a partir do IPO.
Com mais de 150 viagens, o navio passou por uma ampla reforma de 1994 a 1997. Em 1998 teve de parar outra vez, com problemas no motor, e voltou ao mar em 2000 (ver Pesquisa FAPESP no 59). Em 2008, sofreu um incêndio grave e ficou sem condições operacionais de pesquisa, já que os custos para reformá-lo eram muito altos. Em 2012, a compra do Alpha Crucis, que estava sendo planejada havia muitos anos, trouxe o dilema sobre o que fazer com o histórico navio, continuamente castigado pelo tempo: em fevereiro de 2016, quase toda a estrutura de madeira estava tomada por cupins e o motor inoperante. Nenhuma prefeitura expressou interesse em transformar o navio em museu, nem a possibilidade de doação ao Uruguai avançou. A empresa que administra o porto de Santos solicitou a retirada do navio e a universidade resolveu abrir licitação para sua remoção por alguma empresa interessada, que dará ao navio o fim que melhor lhe aprouver, encerrando um longo percurso de produção de conhecimento sobre a costa brasileira.
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A inauguração, em 1967, do navio cujo nome homenageia…
© ACERVO IO-USP 
…Wladimir Besnard
© ACERVO IO-USP 
Na primeira expedição a equipe do navio identificou uma montanha submarina de 3.500 m de altura e o topo a 194 m de profundidade, perto de uma das menores ilhas do arquipélago de Cabo Verde. O navio explorou principalmente a costa sudeste brasileira, de Cabo Frio, no Rio de Janeiro, até o Cabo de Santa Marta, no Rio Grande do Sul. Uma de suas primeiras missões foi uma série de 12 viagens para investigar o potencial pesqueiro da costa do Rio Grande do Sul, em 1968. Seguiram-se mais de 260 viagens, com finalidades didáticas – para a formação de estudantes e pesquisadores – ou científicas, com cerca de 10 mil pontos de coleta de informações sobre correntes, temperaturas, salinidades ou organismos marinhos. O Besnard também teve uma função geopolítica, ao participar do Programa Antártico Brasileiro de 1982 a 1988, ao lado de navios da Marinha como o Barão de Teffé.
Agora as equipes do IO se mobilizam para conservar o máximo possível de seus instrumentos e documentos. Engenheiro elétrico de formação e participante de quatro viagens à Antártida com o Besnard, Luiz Nonnato mostra o timão com os comandos de rotação do motor e da hélice e uma coluna de latão e madeira que abriga a bússola, chamada de bitácula, retirados do navio em 2015, depois que seu destino foi decidido, e mantidos no Laboratório de Instrumentação Oceanográfica do IO.
“Bronze puro”, diz o engenheiro mecânico Francisco Vicentini, que fez 51 viagens no Besnard, das quais 21 como pesquisador-chefe, ao puxar com cuidado um dos dois sinos do navio de uma das prateleiras do laboratório. Por ali estão também, em variados estados de conservação, algumas janelas – ou vigias –, luzes de navegação de emergência a querosene, a placa original do fabricante norueguês e um sextante. Uma das âncoras e instrumentos de maior porte estão à mostra na entrada e no museu do instituto.
A bibliotecária Eloisa de Sousa Maia apresenta o acervo de fotos, filmes e documentos mantidos no museu do IO. Em uma das salas refrigeradas da coleção biológica do instituto estão os 68 diários de bordo, que estão sendo catalogados pela equipe do museu em busca de informações sobre pesquisas, instrumentos, projetos e pesquisadores de cada viagem. “Os diários são muito úteis”, disse Monica Petti, bióloga do instituto e curadora da coleção, com seis viagens no Besnard. Segundo ela, a coleção deve guardar cerca de 50 mil amostras de organismos marinhos coletadas em viagens do Besnard, muitas ainda à espera de análises detalhadas.

Projeto da nova base brasileira na Antártida começa a sair do papel

04:00

Nova base antartica brasileira
Ilustração digital do projeto da nova Estação Antártica Comandante Ferraz. Crédito: Marinha do Brasil
Publicado originalmente em: Estadão: Blog Herton Escobar 03/03/2016
Nova versão da Estação Antártica Comandante Ferraz deve ficar pronta em 2018. Cerimônia de lançamento da pedra fundamental foi realizada no mês de fevereiro, quatro anos após o incêndio que destruiu a base anterior. Obra vai custar US$ 100 milhões e será feita por empresa chinesa.
Quatro anos após o incêndio que destruiu a Estação Antártica Comandante Ferraz, o plano de reconstrução da base de pesquisa brasileira no continente gelado vai finalmente sair do papel. O início dos trabalhos foi anunciado oficialmente na segunda-feira pelos ministérios da Defesa e da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), com a inauguração de uma “pedra fundamental” simbólica em Punta Arenas, no Chile. A cerimônia deveria ter acontecido na própria Antártida, mas o mal tempo impediu o deslocamento da comitiva brasileira até o local.
A nova base vai parecer um hotel de luxo em comparação com a anterior, inaugurada em 1984, que era basicamente um aglomerado de contêineres interconectados — muito querida pelos pesquisadores, mesmo assim. O projeto arquitetônico, criado pelo Estúdio 41, foi escolhido em abril de 2014, por meio de um concurso público, baseado nas demandas técnicas apresentadas pela comunidade científica.
Pelos planos originais, a construção já deveria estar pronta, mas o governo teve dificuldades para contratar a obra. A primeira licitação, no início de 2014, terminou “deserta” — não recebeu nenhuma proposta. A segunda até recebeu propostas, mas teve seu resultado contestado pelas empresas concorrentes. Ao final de um longo imbróglio, saiu vencedora a construtora chinesa CEIEC (China Electronics Import and Export Corporation), que vai cobrar US$ 99,6 milhões pela obra — em várias prestações.
O novo prédio será construído no mesmo local do anterior: na ponta da Península Keller, às margens da Baía do Almirantado, na Ilha Rei George, 900 km ao sul da Patagônia — basicamente, o mais perto que se pode estar da América do Sul na Antártida. Ao todo, serão 4,5 mil metros quadrados de área construída (comparado a 2,5 mil da base anterior), com 17 laboratórios, biblioteca, ambulatório, área de convivência e acomodações para 64 pessoas, incluindo pesquisadores e pessoal da Marinha, que é a responsável pela gestão da estação. A meta é concluir a obra em 2018.

Localização da nova base antartica brasileira
Para ver a localização exata da Estação Comandante Ferraz no Google Maps, clique aqui: https://goo.gl/maps/FBp3G5968Qt

Expectativas

Cientistas brasileiros que trabalham no continente gelado estão ansiosos para ver o projeto concretizado. Desde o incêndio, a estação tem operado com instalações temporárias, chamadas Módulos Antárticos Emergenciais, que foram instalados sobre o antigo heliponto da base. É um esquema que vem funcionando bem, e permitiu a continuidade das pesquisas de forma bastante satisfatória, mas não deixa de ser uma solução temporária.
“A construção da nova base é fundamental para os experimentos da área biológica, com foco em ecossistemas e biodiversidade, que têm mostrado avanços significativos nos últimos anos”, diz a microbióloga Vivian Pelizzari, do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (IO-USP). “O apoio dos laboratórios é essencial para a continuidade de muitos projetos na Baía do Almirantado, que é um local importante para acompanhar as mudanças climáticas na Antártida.”
“A base é essencial, e um motivo de orgulho para todos nós”, diz o pesquisador João Paulo Machado Torres, do Instituto de Biofísica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que estuda poluição ambiental e participou de quatro expedições à Antártida — inclusive, estava na estação quando ela pegou fogo, em 25 de fevereiro de 2012.
Incêndio de 2012 na base brasileira antiga
A estação em chamas, em 25 de fevereiro de 2012. Foto: Divulgação

Preocupação

Há uma preocupação generalizada, porém, sobre uma possível escassez de recursos para pesquisas no continente no próximos anos, por conta da crise econômica que sufoca as contas do país. O glaciologista Jefferson Simões, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), torce para que a nova base não se torne uma “casa vazia”, sem produção científica.
“Nossa grande preocupação agora é com a continuidade dos recursos”, afirma Simões. Segundo ele, os dois Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia dedicados à região (INCT da Criosfera e INCT Antártico de Pesquisas Ambientais) têm recursos para operar só até o final de setembro. Um novo edital de INCTs foi lançado em 2014, mas os resultados até hoje não foram divulgados, por falta de recursos. Outros 19 projetos de pesquisa estão na mesma situação, segundo Simões, que é o coordenador geral do INCT da Criosfera. O último edital dedicado ao Programa Antártico Brasileiro (Proantar) é de 2013.
“Até outubro temos como fazer ciência na Antártida. Depois disso, não sei”, resume Simões. A instalação de uma segunda estação de pesquisa automatizada no interior do continente (chamada Criosfera 2) já teve que ser adiada, diz ele, por falta de recursos. “E estamos tentando não abandonar o Criosfera 1, porque falta dinheiro para manutenção.”
Cerca de 25% das pesquisas na Antártida dependem diretamente das instalações fixas em terra, segundo Simões. Os outros 75% são realizados por meio de acampamentos temporários e, principalmente, dos navios de pesquisa da Marinha: Almirante Maximiano e Ary Rongel.
“Construir a nova estação é louvável. Porém, se os projetos não forem aprovados para que as pesquisas possam avançar, não adianta nada ter uma estação”, diz a pesquisadora Yocie Yoneshigue-Valentin, do Laboratório de Botânica Marinha da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que coordena o INCT Antártico de Pesquisas Ambientais.
Módulos Antárticos Emergenciais
Instalações atuais da Estação Antártica Comandante Ferraz, com os Módulos Antárticos Emergenciais. Foto: Marinha do Brasil

Compromisso

O ministro da Ciência e Tecnologia, Celso Pansera, disse na cerimônia no Chile que o Brasil “continuará apostando cada vez mais no sucesso da pesquisa antártica”. “Um investimento desse porte e os desafios financeiros e tecnológicos que foram superados significam que julgamos fundamental, para a ciência brasileira, que a Estação Antártica continue pesquisando e nos fornecendo dados importantes para o meio ambiente, para a geopolítica e para nossa economia”, declarou o ministro, segundo notícia divulgada pelo ministério.
O Programa Antártico Brasileiro é coordenado pelaComissão Interministerial para os Recursos do Mar, e a reconstrução da estação carrega também um peso geopolítico considerável, além das suas finalidades científicas. “É uma demonstração muito forte para a comunidade científica e a diplomacia internacional que o Brasil mantém seu interesse na Antártida”, observa Simões. O país é membro do Tratado da Antártida desde 1975.
Infográfico nova base antartica
Detalhes do projeto da nova estação. Crédito: Infográfico Estadão