"Pessoal, para quem não me conhece, eu sou o prático Ricardo Falcão, presidente do Conselho Nacional de Praticagem. Venho aqui passar uma mensagem extremamente importante em relação ao coronavírus.
Neste momento de crise na saúde, existe uma preocupação natural com o nosso trabalho, inclusive por parte das nossas famílias. Afinal, embarcamos em navios cuja a maioria da tripulação é de estrangeiros, muitos de países com um grande número de pessoas contagiadas. Quero reforçar aqui o espírito público da nossa atividade.
Toda pessoa que estuda para se tornar prático sabe que prestará um serviço essencial ao funcionamento da nossa economia. Tanto que nosso atendimento não pode parar. Deve estar disponível aos armadores 24 horas, nos 365 dias do ano, da mesma forma que um serviço de saúde.
Nosso comércio exterior depende 95% das vias marítimas. E sabemos que o volume de exportações e importações tem forte impacto no crescimento do PIB, ou seja, na produção das riquezas de um país.
Isso tem um reflexo direto na vida das pessoas. Porque, se a atividade econômica vai mal, o lucro das empresas e a renda dos trabalhadores diminui. Todos passam a consumir menos, afetando o comércio e as indústrias. Um dos resultados é o desemprego.
O prático é fundamental para o funcionamento dessa engrenagem. Sem ele, uma embarcação não tem acesso aos nossos portos. São águas que exigem um conhecimento local e específico de manobras que um comandante não tem, já que ele foi treinado para navegar em alto-mar.
Imagine uma usina termelétrica que abastece toda uma região parar por falta de óleo... Ou um porto fechado por causa de um acidente...
Por isso, podem ter certeza que a sociedade vai ter o que espera de cada um de nós: responsabilidade com o país. O medo não vai nos dominar.
Obviamente, estamos adotando todas as recomendações das autoridades para evitar o contágio e a transmissão da doença, até mesmo adiando a nossa presença na escala de serviço se necessário for.
Nesta segunda-feira, também fizemos uma série de sugestões em carta enviada a Anvisa, Ministério da Saúde e Diretoria de Portos e Costas da Marinha do Brasil.
Nela, pedimos que informem às praticagens as escalas da embarcação nos 30 dias que antecedem a sua chegada ao porto; se houve troca de tripulantes no período; se foi negado o certificado de livre prática da Anvisa antes da sua entrada ou atracação no porto; os motivos da recusa; e os detalhes nos casos ligados à suspeita de coronavírus.
Além disso, solicitamos uma inspeção prévia da Anvisa se os tripulantes com quadro da doença não puderem ser mantidos em isolamento ou se for necessário contato do prático com esses tripulantes. Após a inspeção, questionamos ainda se o embarque deve ser realizado e quais cuidados a serem tomados.
A praticagem não pode, não deve e jamais vai parar por sua livre iniciativa. Sabemos o tamanho da nossa importância para cada brasileiro. Obrigado a todos."
Fonte: Assessoria CONAPRA