Amazônia não é única área importante para combater mudança climática

11:32

Professora Mary Gasalla 

A Semana do Clima da América Latina e do Caribe reuniu cinco mil pessoas em Salvador, entre gestores, ambientalistas, cientistas e empresários para discutir uma preocupação que une o mundo: soluções para combater e lidar com as mudanças climáticas. O evento é preparatório para a COP25, reunião do clima da ONU marcada para dezembro, no Chile.

Os especialistas reafirmaram a urgência de reduzir a emissão de gases causadores do efeito estufa e também de impor um limite menor de aquecimento da Terra: em vez de dois graus, um grau e meio. “Muitos painéis trataram de estratégias de descarbonização e assim chegamos nessa questão”, conta ao Jornal da USP no Ar a professora Mary Gasalla, do Instituto Oceanográfico (IO), que participou do encontro.

Ela diz que “houve um minuto de silêncio para a Amazônia”. A organização da Semana do Clima também enviou uma mensagem de solidariedade aos povos que sofrem com os incêndios na região, ao final do evento. Segundo o Programa de Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), foi registrado um aumento de 82% no número de focos em relação ao ano passado. A especialista salienta que 2019 não é ainda um período de seca.

A professora destaca que há diversas áreas de combate às mudanças climáticas. Algumas relativas às adaptações da matriz energética. Outras naturais, como a floresta, que, com mais desmatamento, podem desequilibrar o ciclo do carbono e o ciclo hidrológico, na medida em que passariam a se tornar emissoras. “Temos que entender as causas do problema. Senão é igual tratar uma febre. Toma novalgina, o calor passa, mas a doença permanece. Uma hora, o estoque do anti-inflamatório acaba”, compara. Segundo ela, é necessário atacar as causas do problema.

No combate às mudanças climáticas, outro campo natural importantíssimo são os oceanos e áreas costeiras. Mary aponta que 40% da população do mundo mora nas costas. E que o Brasil não é só Amazônia, o País conta com 87.491 quilômetros de litoral que absorvem e sofrem impactos. Além disso, se não houver reversão no efeito-estufa, o nível do mar pode subir 70 cm até o final do século, afetando justamente quem mora nas zonas costeiras.

O Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) soltará o primeiro relatório especial da história sobre oceanos e criosfera (área congelada da Terra), de acordo com a professora. “Foram mostrados impasses que acontecem em pequenos países insulares, e no oceano global afetando a pesca especialmente. O Chile e o Caribe foram exemplos de ações governamentais concretas para tratar da pesca e da aquicultura sob enfoque da adaptação”, expõe. A base de alimentação de muitas populações costeiras é a pesca marítima. “Inclusive, nossas pesquisas apontam dados importantes sobre essas projeções e a vulnerabilidade social dessas comunidades”, diz.

Mary avisa que o relatório completo será divulgado na segunda semana de setembro. “Não posso liberar informações antecipadas por questões de impacto”,  justifica. Ela ressalta a importância da preservação dos oceanos ganhar destaque no debate público. “É uma consciência que há pouco as pessoas não tinham”, lembra.

Foi assinada uma carta para promover a ação climática dos oceanos nas políticas públicas na Semana do Clima da América Latina e do Caribe. Havia empresários, prefeitos e agentes públicos de toda a América no evento. “Os prefeitos de Manaus, Recife, Curitiba, entre outros, assinaram o documento”, indica a oceanógrafa. Um avanço para uma abordagem mais holística do desenvolvimento sustentável. “Não somos só Amazônia”, brinca a docente. Os oceanos, além da função social, também são muito importantes nos ciclos de carbono e oxigênio, em razão da vida que abrigam e como termo-reguladores do planeta.


Fonte: Jornal da USP

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