Grandes rios são responsáveis principais por moldar áreas na Amazônia

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Uma pesquisa do Instituto de Geociências da USP (IGc) expõe o papel dos grandes rios na construção dos terrenos do oeste amazônico. O objetivo da pesquisa, segundo Carlos Eduardo Manjon Mazoca, responsável pela pesquisa, era justamente entender se a configuração da superfície terrestre da Amazônia atual se devia principalmente por origens tectônicas ou a processos de origem fluvial.
Segundo ele, a ideia surgiu devido a uma linha de pesquisa já bastante tradicional sobre a Amazônia, que tem como base a hipótese de que processos tectônicos mudaram a topografia da região, de forma gradual ou episódica. “A ideia da nossa pesquisa surgiu para esclarecer aspectos sobre os processos que transformaram a superfície amazônica no tempo recente (aproximadamente nos últimos 100 mil anos)”.
Foram realizadas uma pesquisa de campo para exploração e identificação de afloramentos, datação de material sedimentar e processamento e interpretação de dados de sensoriamento remoto, que registram a mudança da posição do rio ao longo do tempo. Ao final, foi apontada uma falta de evidências tectônicas para explicar a topografia da área, além de como os rios contribuíram para moldar uma extensa região do oeste amazônico.
O processo de molde da superfície terrestre se dá pelo transporte, deposição e erosão de materiais carregados pelos rios. Quando há deposição de material, há uma construção e quando há erosão, destruição. Uma das formas de um rio construir e/ou destruir uma área é executar esse processo de deposição ou erosão acompanhado da mudança lateral do curso do próprio rio.
Dependendo de fatores como porte do rio ou tempo de processo, há diferentes proporções de mudanças que podem ser realizadas. Os terrenos analisados na pesquisa são de superfícies extensas e foram formados por rios de grande porte em centenas ou dezenas de milhares de anos.
O estudo foi concentrado no baixo curso do rio Purus e no baixo curso do rio Coari, ao longo do rio Solimões, além de vários outros de menor porte. Os sedimentos datados são dos lagos Coari e Tefé.
Entretanto, Carlos Eduardo explica que isso foi apenas um recorte necessário para entender processos que ocorrem em uma extensão muito maior na Amazônia. “As feições que encontramos em dados de sensoriamento remoto, por exemplo, podem ser observadas em uma área muito maior do que a área de estudo. E o tipo de lago de onde coletamos sedimentos para datação ocorre em diferentes partes da bacia amazônica”, completa.
Apesar da dificuldade em realizar o trabalho de campo, visto o difícil acesso a áreas mais distantes dos rios principais da Amazônia, a pesquisa mostra, por meio dos dados de sensoriamento remoto, algumas feições que indicam o antigo curso dos rios. “É possível registrar em algumas áreas como um grande rio depositou terrenos gradualmente ao longo do tempo, criando superfícies em altitudes levemente distintas, até atingir a posição em que se encontra atualmente”, diz o pesquisador.
A pesquisa foi desenvolvida junto ao professor Carlos Grohmann, orientador de Manjon, e está inserida em um amplo projeto de investigação da Amazônia, coordenado pelo professor André Sawakuchi. Também obteve apoio de recursos da Fapesp.
paineira.usp.br

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