Mais de 95% do lixo nas praias brasileiras é plástico, indica estudo
17:48
Esta é uma das principais conclusões de um
trabalho de monitoramento realizado desde 2012, em 12 delas, pelo Instituto
Oceanográfico da Universidade de São Paulo (IO-USP), em parceria com o
Instituto Socioambiental dos Plásticos (Plastivida), uma associação que reúne
entidades e empresas do setor.
As pesquisas sobre a questão do lixo no mar
ainda são escassas e incipientes, tanto no Brasil como no exterior. Mas, em
termos mundiais, sabe-se que os resíduos sólidos nos oceanos possuem diversas
proveniências.
Estima-se que 80%
deles tenham origem terrestre. Entre as causas disso estão a gestão inadequada
do lixo urbano e as atividades econômicas (indústria, comércio e serviços),
portuárias e de turismo. A população também tem parte da responsabilidade pelo
problema, devido principalmente à destinação incorreta de seus resíduos que,
muitas vezes, são lançados deliberadamente na rua e nos rios, gerando a chamada
poluição difusa.
Os 20% restantes têm origem nos próprios
oceanos, gerados pelas atividades pesqueiras, mergulho recreativo, pesca
submarina e turismo, como os cruzeiros, por exemplo.
No ranking dos
países mais poluidores dos mares, o Brasil ocupa a 16ª posição, segundo um
estudo realizado por pesquisadores americanos e divulgado em 2015.
Eles estimaram a quantidade de resíduos
sólidos de origem terrestre que entram nos oceanos em países costeiros de todo
o mundo. Aqui, todos os anos são lançados nas praias entre 70 mil e 190 mil
toneladas de materiais plásticos descartados.
Ainda de acordo com o mesmo levantamento, a China, a Indonésia e as Filipinas são as nações que mais jogam lixo nos oceanos, com até 3,5 milhões de toneladas de plásticos por ano. Esses três países também aparecem nos primeiros lugares de outro estudo, realizado pela ONG americana Ocean Conservancy. Ao lado da Tailândia e do Vietnã, são responsáveis pelo descarte de 60% dos resíduos plásticos encontrados nos mares do mundo.
Ainda de acordo com o mesmo levantamento, a China, a Indonésia e as Filipinas são as nações que mais jogam lixo nos oceanos, com até 3,5 milhões de toneladas de plásticos por ano. Esses três países também aparecem nos primeiros lugares de outro estudo, realizado pela ONG americana Ocean Conservancy. Ao lado da Tailândia e do Vietnã, são responsáveis pelo descarte de 60% dos resíduos plásticos encontrados nos mares do mundo.
Resultados
O IO-USP e Plastivida realizaram o
levantamento no litoral brasileiro para conhecer em mais detalhes a situação do
Brasil.
Ele foi feito em seis praias do Estado de
São Paulo (Ubatumirim, Boraceia, Itaguaré, do Uma, Jureia e Ilha Comprida),
três da Bahia (Taquari, Jauá e Imbassaí) e três de Alagoas (do Francês, Ipioca
e do Toco). No total, foram realizadas seis coletas, inicialmente com
intervalos de seis meses e depois de um ano.
"Dessas, as mais poluídas são Boraceia
e Itaguaré, Praia do Francês e Taquari", conta o biólogo Alexander Turra,
do IO-USP, coordenador do trabalho.
Ele explica que as coletas foram realizadas
seguindo um protocolo estabelecido pelo programa das Nações Unidas para o meio
ambiente (ONU Meio Ambiente).
"Primeiro, nós limpamos uma área de
500 metros da areia seca, onde a maré não alcança, e das dunas ou restinga,
atrás da praia", diz. "Depois, voltamos ao local de seis em seis em
seis meses para recolher, identificar e quantificar o lixo nos 100 metros
centrais dessa área."
O monitoramento constatou que, em São
Paulo, o maior volume se acumula nas dunas ou restingas e é proveniente das
atividades de pesca. No Nordeste, o grosso do material é encontrado na areia
seca e vem do turismo.
A história que levou à assinatura do
convênio entre o IO-USP e a Plastivida começou em 2011, quando foi criado o
Compromisso de Honolulu, para discutir a questão de resíduos nos mares em nível
global.
Como consequência
desse documento, no mesmo ano, foi assinada a Declaração Global Conjunta da
Indústria dos Plásticos, da qual a Plastivida é signatária. Foi para
implementar aqui esse compromisso mundial que a associação, como uma das
entidades representantes da cadeia produtiva dos plásticos no país, e o IO-USP
assinaram o convênio em 2012. A meta é se capacitar e desenvolver estudos
científicos para embasar as discussões sobre o tema no Brasil.
Desde então, além do levantamento dos
resíduos nas praias, a parceria resultou em vários outros trabalhos. "O
convênio é um arranjo inovador, que junta a universidade com a iniciativa
privada para resolver questões importantes para a sociedade", diz Turra.
"Ele visa entender o problema, ver onde ele é mais crítico e verificar se
as medidas para combater o lixo no mar estão surtindo efeito."
Além disso, foi criado o Fórum Setorial dos
Plásticos Online - Por Um Mar Limpo, para ampliar os debates sobre os caminhos
e as alternativas de mitigação para o problema dos resíduos nas praias e nos
oceanos.
Trata-se de uma plataforma online, que
reúne todas as informações e o conhecimento obtidos desde 2012, além das
propostas de educação ambiental, prevenção, coleta e reciclagem. Desse Fórum
resultou a Declaração de Intenções, um documento que estabelece os compromissos
da cadeia produtiva dos plásticos no Brasil sobre o tema.
Combatendo
o problema
Os participantes do Fórum pretendem
pesquisar alternativas para que o setor industrial e a população possam
combater o lixo no mar.
"O Instituto Oceanográfico é um
moderador desse diálogo", diz Turra. "Nós auxiliamos as empresas a
canalizarem as informações científicas corretas e a realizar as melhores ações
concretas possíveis."
De acordo com ele, os principais objetivos
do IO-USP nesses projetos são a educação ambiental em relação ao consumo
consciente e à destinação correta do material descartado. A ideia é que, bem
informadas sobre o tema, as pessoas possam ajudar a manter os oceanos e as
praias limpas.
Segundo o presidente da Plastivida, Miguel
Bahiense, o conhecimento gerado durante os anos de existência da parceria é de
que se trata de um problema que só será resolvido em conjunto pelos vários
setores relacionados ao problema.
"Todo o
estudo reunido nos fez entender que a questão do lixo nos mares vai além dos
municípios costeiros", avalia Turra.
"Ela envolve todas as cidades,
Estados, a gestão dos resíduos sólidos, o saneamento básico, a educação
ambiental e toda uma cultura social que deve ser estruturada. Acreditamos que o
Fórum será um marco transformador da sociedade, por envolver diferentes setores
na busca do desenvolvimento sustentável."
Fonte: BBC
BRASIL
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